Malangatana...O pintor poeta! 1936-2011




As tintas de Moçambique perderam a cor e o nosso pintor-poeta partiu...

Malangatana Valente Ngwenya nasceu a 6 de Junho de 1936 em Matalana, uma povoação do distrito de Marracuene, às portas da então Lourenço Marques, hoje Maputo.

Nos últimos 50 anos foi muito mais do que pintor. Fez cerâmica, tapeçaria, gravura e escultura. Fez experiências com areia, conchas, pedras e raízes. Foi poeta, actor, dançarino, músico, dinamizador cultural, organizador de festivais, filantropo e até deputado.

A Biblioteca Rosae, aquando da visita à escola da Vice-Ministra da Educação de Moçambique, divulgou poetas e pintores portugueses e moçambicanos destacando Malangatana (ver post de 9 de Dezembro)

A poesia, para o multifacetado artista, está em coisas simples como "o bambolear das ancas da mulher" e o "ribombar dos tambores". "Mesmo quando vivem em palhotas, as pessoas são ricas, os cheiros que há lá dentro são poesia".

Pensar alto

Pensar alto

Sim
às marrabentas
às danças rituais
que nas madrugadas
criam o frenesi
quando os tambores e as flautas entram a fanfarrar

fanfarrando até o vermelho da madrugada fazer o solo sangrar
em contraste com o verdurar das canções dos pássaros
sobre o já verduzido manto das mangueiras
dos cajueiros prenhes
para em Dezembro seus rebentos
dançarem como mulheres sensualíssimas
em cada ramo do cajual da minha terra
mas, sim ao orgasmo
das mafurreiras
repletas de chiricos
das rolas ciosas pela simbiose que só a natureza sabe oferecer

mas sim
ao som estridente do kulunguana
das donzelas no zig-zague dos ritos
quando as gazelas tão belas
não suportam mais quarenta graus à sombra dos canhueiros em flor

enquanto as oleiras da aldeia, desta grande aldeia Moçambique
amassam o barro dos rios
para o pote feito ser o depositário
de todo o íntimo desse Povo que se não cala disputando
Malangatana

Comentários

  1. MALANGATANA NGWENYA


    Não teve berço, nem brinquedo

    Dormiu na esteira, no chão

    E de noite sentia medo

    Que ali chegasse o “papão”.

    Em moleque, criado de meninos

    Apanha bolas e pastor

    Aprendiz de “nyamossoro”

    Ansiava um Mundo melhor

    Trazia em si a Arte, em cada poro.

    Foi em Matalana que nasceu

    E experimentou a arte de pintar

    Desenhou e fez-se escultor

    Dedicou-se à vida com trabalho

    E deixou nele todo o seu amor.

    Hoje cidadão do Mundo

    Venerado em toda a parte

    Não só pelo HOMEM que é

    Mas também pela sua ARTE.



    Em vez de um ADEUS, ATÉ JÁ !!!

    ARFER

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