Rosa sem Espinhos
Para todos tens carinhos,
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!
Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.
E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
«Bem me podes acudir:
«Deixa do cálix divino
«Uma gota só libar...
«Deixa, é néctar peregrino,
«Mel que eu não sei fabricar ...»
Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?
A ninguém mostras rigor!
Que rosa és tu sem espinhos?
Ai, que não te entendo, flor!
Se a borboleta vaidosa
A desdém te vai beijar,
O mais que lhe fazes, rosa,
É sorrir e é corar.
E quando a sonsa da abelha,
Tão modesta em seu zumbir,
Te diz: «Ó rosa vermelha,
«Bem me podes acudir:
«Deixa do cálix divino
«Uma gota só libar...
«Deixa, é néctar peregrino,
«Mel que eu não sei fabricar ...»
Tu de lástima rendida,
De maldita compaixão,
Tu à súplica atrevida
Sabes tu dizer que não?
Tanta lástima e carinhos,
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai!, que não te entendo, flor.
Tanto dó, nenhum rigor!
És rosa e não tens espinhos!
Ai!, que não te entendo, flor.
Almeida Garrett, Folhas caídas
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