POEMA DA SEMANA (33)

As Rosas

Rosas que desabrochais,
Como os primeiros amores,
Aos suaves resplendores
         Matinais;

Em vão ostentais, em vão,
A vossa graça suprema;
De pouco vale; é o diadema
         Da ilusão.

Em vão encheis de aroma o ar da tarde;
Em vão abris o seio húmido e fresco
Do sol nascente aos beijos amorosos;
Em vão ornais a fronte à meiga virgem;
Em vão, como penhor de puro afecto,
          Como um elo das almas,
Passais do seio amante ao seio amante;
           Lá bate a hora infausta
Em que é força morrer; as folhas lindas
Perdem o viço da manhã primeira,
            As graças e o perfume.
Rosas que sois então? – Restos perdidos,
Folhas mortas que o tempo esquece, e espalha
Brisa do inverno ou mão indiferente.

Tal é o vosso destino,
Ó filhas da natureza;
Em que vos pese à beleza,
            Pereceis;
Mas, não... Se a mão de um poeta
Vos cultiva agora, ó rosas,
Mais vivas, mais jubilosas,
            Floresceis.

Machado de Assis, in Crisálidas

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